terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O tempo e o amor...

Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
São as feições como a vida, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circuferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas.  Por isso os antigos sabiantes pintaram o amor menino; por que não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos que o armou a natureza, o desarna o tempo. Afrouxa-lhe o arco com que já não atira; embota-lhe as setas com que já não fere; abre-lhe os olhos com que já não via;e faze-lhe crescer as asas com que voa e foge. A razão natural de todas as dificuldades é por que o tempo tira a novidade ás coisas:descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto e basta que sejam usadaas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso quanto mais o amor! O mesmo amar é causa de não amar, e ter amado muito, de amar menos.

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